1. Introdução: O Satélite
COROT - A Participação Brasileira
O satélite COROT faz parte do programa de pequenos
satélites da agência espacial francesa CNES. Com peso total de 600 kg, ele
utilizará uma plataforma PROTEUS (CNES-Alcatel) de órbita baixa (850 km),
com lançamento previsto para o início de 2005 numa missão de três anos.
A carga útil é composta de um telescópio afocal de 270
mm, uma câmera de grande campo (~10° de raio, no céu), equipada com quatro
detectores CCD (2048 x 2048 pixels) e eletrônica de controle, processamento e
transmissão de dados. O satélite mede 4,20 x 2,00 metros aproximadamente.
Será colocado numa órbita inercial polar, que permite a observação de
zonas do céu livres de eclipses pela terra por cerca de 150 dias
ininterruptos, constituindo isso um dos grandes trunfos do experimento.
Participam atualmente da missão laboratórios franceses e de vários países
europeus, contribuindo para a carga útil ou para o segmento solo.
O satélite é dedicado à sismologia estelar (análise de
pulsações não-radiais das estrelas) e à procura de exoplanetas. Para isso,
o experimento fará fotometria estelar de altíssima precisão (D F/F ~10-6),
que aliada a longos períodos de medidas em cada região do céu, permitirá
atingir-se a resolução em frequência de 0,1m Hz, e detectar-se, pela
primeira vez na história da Humanidade, planetas do tamanho da Terra,
passando em frente aos respectivos discos estelares.
Além de vários centros de pesquisa franceses, participam
da missão espacial COROT A ESA, a DASA, o Research Space Science
Departement do ESTEC (Holanda) e laboratórios científicos dos seguintes
países europeus: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha e Itália.
Maiores detalhes sobre a missão podem ser obtidos no
endereço http://www.astrsp-mrs.fr/projets/corot/pagecorot.html.
1.1. A participação brasileira na missão COROT
Cientistas brasileiros foram convidados a se engajar nessa
missão espacial pelos responsáveis científicos franceses no final de 1999.
Um comitê COROT-Brasil foi então criado, reunindo astrônomos de diversos
centros de pesquisa do país interessados no projeto. Membros desse comitê
participaram desde então das principais reuniões científicas envolvendo o
satélite.
O CNES convidou oficialmente a Agência Espacial Brasileira
a participar da missão COROT em 19 de outubro de 2001, através de
carta endereçada por seu Diretor-Geral, Dr. Gérard Brachet ao presidente da
AEB, Dr. Múcio Roberto Dias, que acolheu favoravelmente o convite e sugeriu
em sua resposta ao Dr. Brachet, a vinda de uma missão técnica francesa ao
Brasil para discutir detalhes dessa futura cooperação.
O Comitê COROT-Brasil promoveu então a realização de
uma reunião bi-lateral técnico-científica sobre o assunto, com
representantes da AEB (Dr. Carlos Santana), CNES, MCT/INPE e da comunidade
astronômica brasileira (cf. Anexo II). Essa reunião foi organizada em 15-16
de abril último no INPE (SJC) pela CRI, por iniciativa do Dr. Odylio Denys de
Aguiar. Nessa reunião, engenheiros e cientistas franceses da equipe COROT
apresentaram os diversos aspectos da missão; O Dr. Himilcon Carvalho
(SCE-INPE) discorreu sobre as características da Estação de Natal e suas
condições para recepção dos dados do satélite e os cientistas brasileiros
apresentaram programas de pesquisa utilizando observações com COROT.
Nessa ocasião, a equipe COROT apresentou
oficialmente uma proposta sobre a participação brasileira na missão. Ela
compreende:
a) a utilização da Estação do INPE de Natal, que
permitirá aumentar em quase 100% a capacidade de coleta de dados;
b) a participação de até 5 engenheiros/cientistas
brasileiros na elaboração de "software" de calibração,
correção instrumental e redução de dados;
c) a participação de cientistas brasileiros nos grupos
de trabalho para definição, observação e análise preparatória das
estrelas que serão observadas na missão.
O presente documento tem por finalidade apresentar à
Agência Espacial Brasileira uma solicitação formal de participação do
país na missão espacial Corot.
1.2. Os objetivos científicos de COROT
O estudo físico das estrelas e de suas atmosferas sofreu
avanços consideráveis somente a partir dos anos trinta, quando nossos
conhecimentos sobre a estrutura e evolução estelares começaram a progredir
significativamente. Contudo, apesar de ser o Sol a estrela mais próxima de
nós, apenas nas últimas duas décadas pudemos estudar com precisão algumas
das características físicas de seu interior. Isso ocorreu graças à
descoberta de pulsações não-radiais (pnr) observadas na
fotosfera solar como um rico espectro de oscilações com períodos em torno
de 5 minutos. A proximidade dessa estrela permitiu a identificação de quase
10 milhões de modos de pnr em sua superfície. As frequências dessas
oscilações são determinadas pela física da cavidade onde elas se propagam
(isto é, o interior da estrela), da mesma maneira que as frequências sonoras
estacionárias que se formam no tubo de um instrumento musical dependem das
características físicas desse tubo. Através da inversão dos dados
(frequências observadas e sua distribuição no espaço de Fourier) pode-se
deduzir as propriedades do interior das estrelas.
Os terremotos (ou sismos) terrestres são causados por pnr
propagando-se no interior da Terra, e os geofísicos/sismólogos as
utilizam para estudar a estrutura de nosso planeta. De maneira semelhante, nas
estrelas, as pnr provocam os estelemotos, que nos fornecem
informações preciosas e detalhadas sobre a estrutura estelar. A análise
sismológica atua como uma espécie de telescópio que permite
"enxergar" o interior dos astros.
É fundamental estender-se os estudos sismológicos
realizados com o Sol para os mais variados tipos de estrelas, pois assim
avançaremos de maneira significativa em nossos conhecimentos sobre a
estrutura e evolução estelares. O experimento COROT foi idealizado
para permitir esses estudos, através de medidas fotométricas de altíssima
precisão, que permitirão alcançar a resolução em frequência de 0,1 m Hz.
A precisão fotométrica permitirá também detectar-se a
pequena atenuação luminosa causada pela passagem de um planeta extra-solar
em frente à sua estrela central. A precisão inédita atingida pelo
instrumento do COROT será suficiente para se descobrir pela primeira
vez planetas de tipo telúrico, localizados na zona habitável (entre 200 e
600 ° K) dos sistemas extra-solares.
Cerca de 100 estrelas serão estudadas no programa
sismológico e 60.000, no programa exoplanetas, prevendo-se que serão
descobertos centenas de grandes planetas (tipo Júpiter) e algumas dezenas de
Terras. Excusado dizer o entusiasmo que esse tipo de resultado científico
causará no grande público!
Existe naturalmente um grande número de aplicações dos
dados do satélite além dos estudos sismológicos e da procura de
exoplanetas. Programas científicos inéditos poderão ser realizados,
utilizando análises de variações fotométricas das estrelas ao longo de 150
dias ininterruptos, impossíveis de se obter da superfície da terra. Alguns
deles, propostos pela comunidade astronômica brasileira, estão descritos na
seção II abaixo.
Finalmente, vale lembrar que estudaremos com a missão COROT
estrelas mais novas e mais velhas do que o Sol, com precisão jamais
alcançada, o que nos permitirá estudar pela primeira vez em detalhe a
evolução de certos fenômenos solares. Isso nos fará naturalmente avançar
no estudo temporal de algumas questões fundamentais nas relações Terra-Sol.
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