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DIA 3 – 14 de janeiro de 2004
O dia em que um meteoro caiu na zona sul
Integrantes da Expedição SP 450 anos foram à cratera e também acharam objetos para museu

MARINÊS CAMPOS

O Museu da Cidade ainda nem foi inaugurado, mas já tem garantidos quatro objetos para seu acervo. O antropólogo José Guilherme Magnani conseguiu, pelo preço de R$ 1,40, uma garrafa de Frutaína e outra de Dream Cola, os dois refrigerantes mais consumidos em um forró do extremo da zona sul. A museóloga Maria Ignez Mantovani Franco também deu sua contribuição, obtendo exemplares das cervejas Colônia e Lokal, as mais vendidas nos botecos da região.

Na manhã de anteontem, integrantes da Expedição São Paulo 450 anos saíram de um hotel de Parelheiros entusiasmados com a programação do dia. "Vamos conhecer a cratera de Vargem Grande, onde um meteoro caiu 40 milhões de anos atrás", anunciou a geóloga Patrícia Sepe. Os 30 pesquisadores entraram na van e partiram para ver o que chamaram de "fenômeno geológico".

Meia hora depois, exclamações de espanto e admiração. "Vejam que coisa magnífica", dizia um. "É maravilhoso", comentava outro. Os leigos da expedição, por mais que se esforçassem, só conseguiam ver o bairro de Vargem Grande, uma ocupação irregular que começou na década de 80, cheio de casinhas eternamente em construção, uma gente pobre que precisa acordar de madrugada e viajar três horas de ônibus para chegar ao centro de São Paulo e um barzinho de esquina.

E onde é que estava a tal cratera? "Bem aqui", mostrou a geóloga, apontando todo o bairro. Os viajantes se debruçaram em torno de um mapa e Patrícia contou a história do meteoro que caiu ali, formando a cratera de 3 quilômetros de diâmetro e ainda está encravado nas entranhas da terra.

Dentro da cratera, vivem 35 mil pessoas que não entenderam nada daquela explicação. "Estamos no extremo sul da mancha urbana", esclareceu a arqueóloga Lúcia Juliani. "Essa cratera guarda a história geológica e climática da cidade", observou Patrícia.

O pedreiro Luiz Moisés, que há 14 anos vive sem saber dentro do buraco, não se impressionou com a queda do meteoro. "Acho que esse pessoal devia trazer benfeitorias para o bairro, tapando os buracos das ruas e arrumando mais ônibus para a gente." A falta de iluminação pública, a desordem urbana e o excessivo número de grades, cadeados e lanças nos portões - nessa periferia, pobre não sente mais vergonha em roubar outro pobre -, afligem muito mais os moradores que a despercebida cratera ou a história do meteoro que despencou do céu.

Aliás, lugar onde caiu meteoro pode até ter efeito positivo na segurança pública. Pelo menos é o que acredita Arnaldo Pereira da Silva, diretor do Centro de Detenção Provisória de Parelheiros, onde 1.200 pessoas cumprem pena dentro da cratera. "Não dá para fazer túnel." A depressão causada pelo meteoro fez com que o solo se transformasse em várzea. "Se cavarem meio metro, os presos se afogam dentro da água."

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J.F Diório/AE.

Vargem Grande, na zona sul de São Paulo.


J.F Diório/AE.

Os expedicionários a caminho do mirante da Cratera de Colônia, em Vargem Grande, zona sul.

                                             

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