Novas Clássicas são estrelas variáveis eruptivas. São sistemas binários cerrados, semi-ligados, onde ocorre transferência de matéria pelo extravasamento do lobo de Roche da componente menos densa. As binárias são compostas por uma estrela do tipo anã branca e uma estrela de tipo espectral tardio, geralmente próxima à seqüência principal (para uma revisão veja por exemplo Warner 1995 ¨Cataclysmic Variable Stars¨). O fenômeno nova decorre da detonação termonuclear de hidrogênio na superfície da estrela compacta em condições de degenerescência eletrônica. Luminosidades maiores ou da ordem da luminosidade de Eddington são produzidas durante a fase de luminosidade bolométrica constante, liberando da ordem de 10**45 - 10**47 erg (Bode e Evans 1989, ¨Classical Novae¨) O meio interestelar é enriquecido pela ejeção de uma envoltória de aproximadamente 10**-4 a 10**-5 Msolar composta de um material enriquecido pelo complexo processo de nucleossíntese associado à ocorrência do ciclo CNO fora do equilíbrio (Gehrz, Truran Williams e Starrfield, PASP, 110, 3,). Elementos originais da anã branca progenitora são também detectados no gás ejetado (e.g. Ne em novas com progenitoras com massa acima de 1.3 Msolar)


As linhas de emissão formadas em envelopes de novas são excitadas pela radiação no UV extremo e raios-X moles proveniente da fonte central que evoluiu da detonação. A evolução do envelope é caracterizada por uma fase de pseudo-fotosfera, pela presença de transições permitidas de CNO e pela fase nebular. Novas durante a fase coronal apresentam linhas de espécies altamente ionizadas formadas possivelmente por fotoionização. O entendimento desses sistemas passa pelo conhecimento da emissão do sistema binário na fase de pós-nova (propriedades da fonte central e sua contribuição nas linhas observadas) e pela determinação das condições físicas no envelope (distribuição de massa, campo de velocidades, ocorrência de choques com o meio interestelar). Tem se estabelecido um intenso debate entre os resultados de observações e a teoria de erupções de novas no que se refere à quantidade de massa ejetada na detonação. Esse parâmetro tem uma importância fundamental no entendimento da evolução de binárias cataclísmicas. Por outro lado, o enriquecimento químico da envoltória e o papel das novas na história química do bojo no que se refere a alguns isótopos tais como Na e Al são pontos que carecem de definição observacional. Ainda persiste a questão da produção de Lítio prevista nos modelos de TNR e a possibilidade de detecção desse elemento no envelope fotoionizado (Diaz, in ¨The light elements and their evolution¨, IAU Symp. 198, 2000). Apenas 16 novas foram estudadas até o presente com relação à composição química de seus envelopes. É importante salientar que em alguns destes estudos foram empregados métodos rudimentares para a estimativa das abundâncias elementares. Uma amostra ainda mais limitada foi analisada em detalhe com relação às propriedades da fonte ionizante.


Nesta linha de pesquisa propomos a realização de um estudo detalhado de poucas novas clássicas visando a determinação de abundâncias químicas e condições físicas no envelope. Para tanto serão selecionados dados da literatura no ótico, UV e infravermelho seguindo critérios de qualidade e completeza. Uma quantidade considerável de dados observacionais de novas recentes ainda não analisados com esse fim está atualmente sob domínio público nos bancos de dados do HST, IUE, ROSAT, EUVE. Estimativas das propriedades físicas da fonte central e sua evolução após a detonação serão também obtidas. Essa modelagem pode ser conduzida de forma bastante restrita se novas linhas sensíveis forem utilizadas no diagnóstico. Em particular, a presença de linhas coronais de um mesmo elemento em mais de um grau de ionização facilita consideravelmente o estudo das envoltórias por permitir uma estimativa das condições físicas de forma pouco sensível à composição química (e.g. Diaz, Williams, Phillips e Hamuy MNRAS, 277, 259,1995). Esta pode ser então ajustada com um mínimo de degenerescência com relação aos parâmetros da fonte central. A inclinação do contínuo na banda K quando comparado com o contínuo ¨free-free¨ poderá indicar a condensação de poeira no gás ejetado que seria incorporada aos modelos. A perspectiva de observações "simultâneas¨ no infravermelho e no óptico é extremamente interessante. Estas medidas no infravermelho serão incorporadas ao projeto na medida dos resultados observacionais obtidos. (vide Diaz 1998 in ¨Science with Gemini¨ p.18, para um resumo das perspectivas associadas ao uso de novos recursos observacionais nessa área). Os recursos computacionais para modelagem de envelopes heterogêneos em 3 dimensões têm sido desenvolvidos pelo grupo. Os mesmos se encontram prontos para a utilização com dados reais (Diaz, 2001 in ¨The Challenge of High Resolution X-ray to IR Spectroscopy¨, ASP Conf. Ser., p. 227). Dados do telescopio Gemini estão sendo atualmente analisados e poderão fornecer novos indícios acerca da distribuição de matéria em envelopes jovens.