A Biblioteca de Alexandria

Permanecem até hoje um mistério as razões que culminaram no incêndio responsável pela destruição da Biblioteca de Alexandria, no Egito, o maior acervo do conhecimento humano que existiu em toda a Antiguidade. O enigma persiste, não pela falta de suspeitos mas, ao contrário, pelo excesso deles. Os fatos apontam para um romano, Júlio César; um cristão, o bispo Teófilo; e um muçulmano, o califa Omar de Damasco.

Considera-se que a Biblioteca Real de Alexandria tenha sido fundada em 238 a.C. pelo faraó egípcio Ptolomeu II Sóter, que se inspirou no Templo das Musas da Grécia, um santuário mais tarde transformado no Liceu de Aristóteles. Rival cultural de Atenas, na Grécia, a maior biblioteca do mundo era contemplada ainda por jardins e um zoológico, além da biblioteca, propriamente dita.

Um grande acervo cultural

Estima-se que em determinado momento a Biblioteca de Alexandria reunisse cerca de meio milhão (ou mesmo um milhão) de documentos originários da Assíria, Grécia, Pérsia, Índia e de muitas outras civilizações. O acervo era administrado por mais de cem pessoas que viviam na Biblioteca e nela permaneciam em tempo integral para pesquisar, traduzir aulas e conferências, escrever e copiar documentos. Em aproximadamente sete séculos de existência, a Biblioteca foi parcialmente destruída por diversas vezes. Alexandria foi por muito tempo conhecida por políticas alternantes e violentas. Assim, o desaparecimento da Biblioteca está relacionado às histórias das conquistas e tem como causa as divergências entre grupos conflitantes, movidos por suas diferentes religiões. As narrativas acerca dos muitos incêndios que acometeram a Biblioteca são contadas ao longo de séculos e têm interpretações diversas, segundo o grupo dominante

 

 

 

O destino da Biblioteca de Alexandria

O primeiro a ser apontado como o responsável pela destruição da grande Biblioteca foi Júlio César que, em 48 a.C., perseguia Pompeu, no Egito, quando foi interceptado em Alexandria por uma frota egípcia que lhe era numericamente maior. Vendo-se em território inimigo, César ordenou que fosse ateado fogo aos navios inimigos. A tática, aparentemente bem sucedida, não contava que o fogo se espalhasse pelo porto: a destruição não se limitou à frota egípcia, mas incendiou também parte da cidade de Alexandria e atingiu a área onde se localizava a Biblioteca. A descrição de César sobre o incêndio menciona que este começou no porto, mas não inclui detalhes sobre a extensão do evento.

A segunda hipótese para a destruição da Biblioteca é creditada a Edward Gibbon que, em sua obra "Declínio e Queda do Império Romano", narra uma história complexa: Teófilo, bispo de Alexandria de 385 a 412 d.C., durante seu reinado transformou o Templo de Serápis em uma igreja cristã, quando inúmeros documentos ali existentes foram destruídos. Estima-se que o Templo de Serápis reunia cerca de 10% do acervo total da Biblioteca de Alexandria. Depois da morte de Teófilo, o sobrinho deste, Cirilo, tornou-se o bispo. Seguiram-se levantes, quando um monge cristão, Hierax, foi assassinado por ordem do prefeito Orestes. Dizia-se que Orestes estava sob a influência de Hypatia, filósofa, matemática e filha do último responsável pela Biblioteca - embora se observe que Hypatia fora a última bibliotecária responsável. Logo após a morte de Hierax, grupos antagônicos atraíam seus desafetos a fim de promover matanças entre os diversos grupos étnicos. Um desses confrontos envolveu Hypatia, cuja morte alguns historiadores relacionam à destruição final da Biblioteca. Como Teófilo é culpado pelo fato de ter aniquilado documentos quando da ruína do templo de Serápis, a fim de torná-lo uma igreja cristã, a confusão entre os incidentes permitiu que Teófilo fosse responsabilizado pela morte de Hypatia e também pela destruição da Biblioteca, sem se ter em conta o fato de que Teófilo morrera alguns dias antes de Hypatia.

 


 


Uma terceira hipótese responsabiliza o califa Omar de Damasco pela destruição da Biblioteca. Quando os muçulmanos tomaram a cidade de Alexandria, em 640 d.C., ao califa chegaram informações de que a Biblioteca abrigava escritos que contradiziam o Alcorão, livro sagrado muçulmano. Desta forma, obras teriam sido destruídas, utilizadas como luminárias nas casas de banho da cidade, tendo levado cerca de seis meses para serem totalmente consumidas. Tal narrativa pertence ao bispo Gregório Bar-Hebraeus, o qual destinava a maior parte do tempo a escrever sobre as atrocidades dos muçulmanos, contudo, sem documentação histórica. Quem, afinal, provocou o incêndio que destruiu a Biblioteca de Alexandria? Documentos de Plutarco, o biógrafo, historiador e moralista grego (50 a 120 d.C.) culpam Júlio César. Edward Gibbons, ateu ou deísta, culpa os cristãos. Já o bispo Gregório, que, particularmente, era antimuçulmano, culpa o califa Omar. Motivos não faltam e, provavelmente, todos tiveram alguma participação nesta empreitada

 


 


 


 


 


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Referências

OSU- The Department of History at The Ohio State University: [Home Page]

BL   - The Mysteriuos Fate of the Great Library of Alexandria: [Home Page]

 by NVLeister & MC van Harrevelt Costa