MEMORIAL CIRCUNSTANCIADO
de
EDUARDO
JANOT PACHECO
para
CONCURSO DE PROFESSOR TITULAR
DEPARTAMENTO DE ASTRONOMIA
I. A. G. – U. S. P.
ÍNDICE
p.
1 : Parte A: Os últimos Cinco Anos
p. 1 : A-1) A
Missão Espacial CoRoT
p. 11: A-2) O Núcleo de Apoio
à Pesquisa Espacial
p. 15: A-3) A Alta resolução
Angular
p. 18: A-4: A Sismologia
Estelar
p. 19: A-5) Astrofísica de
Altas Energias
p. 22: Parte B: Os Anos
Anteriores
p. 22: B-1) Antecedentes
Acadêmicos e Iniciação Científica
p. 23: B-2) Mestrado
p. 24: B-3) Doutorado
p. 25: B-4) Outras Atividades
de Pesquisa
P. 30: Parte C: O Curriculum Vitae
PARTE A: -- OS ÚLTIMOS CINCO ANOS
Minhas atividades profissionais nos
últimos cinco anos concentraram-se essencialmente em três vertentes, todas fundeadas
em colaborações internacionais e nacionais:
A – 1) A MISSÃO ESPACIAL CoRoT
Esta
foi sem dúvida, minha atividade principal nos últimos três anos. Como
procurarei demonstrar abaixo, ela resultou em conseqüências muito
interessantes, não só do ponto de vista pessoal, mas igualmente para o
Departamento de Astronomia do IAG, a Universidade de São Paulo e a pesquisa
astronômica brasileira em geral, que se envolveu pela primeira vez diretamente
num projeto de satélite científico.
A-1-1) O Satélite CoRoT
O satélite CoRoT (Convection, Rotation
and planetary Transits) faz parte do programa de pequenos satélites da
agência espacial francesa CNES. Com peso total de 600 kg, ele utilizará uma
órbita baixa (~900 km), com lançamento fixado para junho de 2006 numa missão de
três anos (cf. Figura 1). Além do Brasil, participam da missão laboratórios
franceses e de vários países europeus, contribuindo para a carga útil ou para o
segmento solo.
A carga útil é composta de um telescópio afocal de 270
mm, uma câmera de grande campo (~10° de raio, no céu), equipada com quatro detectores CCD
(2048 x 2048 pixels) e eletrônica de controle, processamento e transmissão de
dados. O satélite mede 4,20 x 3,00 metros aproximadamente. Será colocado numa órbita inercial polar, que permite a
observação de zonas do céu livres de eclipses pela terra por cerca de 150 dias
ininterruptos, constituindo isso um dos grandes trunfos do experimento.
O satélite é dedicado prioritariamente à procura de
exoplanetas e à sismologia estelar (análise de pulsações não-radiais das
estrelas) (cf. doc. no. 1). Para isso, o experimento fará fotometria de
altíssima precisão (DF/F ~10-6), que aliada a longos períodos de medidas em cada
região do céu, levará à detecção pela primeira vez na história da Humanidade,
de planetas do tamanho da Terra (capazes de abrigar vida semelhante à nossa),
devido à variação de luz causada por sua passagem em frente aos respectivos
discos estelares (eclipses devidos aos trânsitos planetários). A precisão das
observações permitirá atingir-se uma resolução em frequência no espaço de
Fourier de 0,1mHz, possibilitando a análise precisa da estrutura interna de uma grande
variedade de estrelas. Assim, o passado, o presente e o futuro do Sol serão
melhor compreendidos.
Além de vários centros de pesquisa franceses,
participam do satélite, a ESA,
a DASA (agência espacial alemã), e laboratórios científicos da Alemanha,
Áustria, Bélgica e Espanha.
Maiores detalhes sobre a missão podem ser obtidos no
endereço principal do experimento, http://serweb.oamp.fr/projets/CoRoT/
A-1-2)
A Participação Brasileira no Satélite CoRoT
Tudo começou de
maneira fortuita: no final de 1999, encontrava-me realizando estágio de
pós-doc no Observatoire de Paris-Meudon, sede científica do projeto CoRoT,
quando fui abordado pela Principal Investigator do satélite, Dra. Annie Baglin,
minha conhecida. Necessitando de novos parceiros para a missão espacial, ela
convidou por meio intermédio os brasileiros a se engajarem no projeto, mediante
contribuição da ordem de um milhão de dólares. Sem me deixar impressionar pelo
montante, criei então informalmente um Comitê
COROT-Brasil (CCB), dirigido por mim e formado por astrônomos de diversos
centros de pesquisa do país interessados na missão. Comecei a participar desde
então, das principais reuniões cientícas envolvendo o satélite, como membro
convidado (cf. p. ex., doc. no. 2).
De volta ao Brasil, e secundado eventualmente por José Renan
de Medeiros (UFRN), iniciei, uma longa
batalha de convencimento das vantagens de engajarmo-nos na missão CoRoT,
inicialmente no seio da comunidade astronômica brasileira, e em seguida das
autoridades responsáveis pela condução e financiamento da pesquisa no Brasil,
como o MCT, a Agência Espacial Brasileira, o INPE, o CNPq, a CAPES e a FAPESP,
e os principais centros de pesquisa em astronomia do país. Ao longo dessa então
chamada Operação CoRoT-Brasil, o
papel representado pela mídia foi essencial (vide abaixo).
O CNES convidou
ocialmente a Agência Espacial Brasileira a participar da missão CoRoT em 19
de outubro de 2001 (cf. doc. no. 3)
Promovi então a realização de uma reunião bi-nacional técnico-cientíca
sobre o assunto, com a presença dos principais cientistas e engenheiros
franceses do satélite e representantes da AEB, CNES, MCT/INPE e da comunidade
astronômica brasileira, para discutir os detalhes da cooperação Brasil-França
envolvendo o projeto.
Essa reunião foi
organizada em 15-16 de abril DE 2002 no INPE (SJC) (cf. doc. no. 4), graças ao
apoio incondicional da Comissão de Relações Institucionais do mesmo, então
presidida por Odylio D. de Aguiar.
Na ocasião,
engenheiros e cientistas franceses da equipe CoRoT apresentaram os diversos aspectos da missão; e os cientistas
brasileiros expuseram programas de pesquisa utilizando observações com o
satélite.
A equipe CoRoT
apresentou então ocialmente, uma proposta
para a
participação brasileira na missão (cf. doc. no. 5). Ela compreendia:
a) a utilização da Estação do INPE de Natal, que
permitiria aumentar em quase 50% o número de estrelas observáveis;
b) a participação de cerca de 5 engenheiros/cientistas
brasileiros na elaboração de software
de calibração, correção instrumental e redução de dados;
c) a participação de cientistas brasileiros nos grupos
de trabalho para denição, observação e análise na fase de pré-lançamento,
das estrelas que serão observadas na missão.
Redigi então um
documento, expondo a questão, que foi assinado por membros do Comitê
CoRoT-Brasil e pesquisadores do INPE (cf. doc. no. 6). Ele foi encaminhado à
Agência Espacial Brasileira em julho de 2002, como uma solicitação formal de
participação do país na missão espacial.
Em setembro de 2002, a AEB aprovou essa participação (doc.
no. 7), designando por sua parte uma verba para a operação da estação receptora
de Natal. Em 24 de outubro de 2002 fui nomeado
representante brasileiro no CoRoT Scientific Comitee (SC) (cf. doc. no. 8).
A esse título, compareci (e apresentei trabalhos) a todas as CoRoT Weeks e
sessões do SC (reuniões bi-anuais), desde dezembro de 2003 (cf. doc. no. 9).
Maiores detalhes sobre a participação do país na missão
CoRoT podem ser obtidos no sítio brasileiro, http://www.astro.iag.usp.br/~CoRoT
. Na figura 2 mostramos o emblema do CCB.
Seria
praticamente impossível e assaz entediante, tentar descrever todo o
trabalho envolvido na implantação da operação COROT-Brasil, em termos de
seminários, palestras e entrevistas, reuniões com autoridades governamentais,
universitárias e diplomáticas, elaboração e obtenção de cartas de apoio no
Brasil e na França (cf. p. ex., doc. no. 10), etc...É escusado salientar o grau
de convicção e tenacidade exigidos pela empreitada, sobretudo nos primeiros
anos.
Como já mencionei, a mídia desempenhou
um papel importante na implementação da Operação CoRoT-Brasil, pela influência
que exerce nos corações e mentes. Matérias sobre o satélite apareceram nos
principais órgãos de imprensa e TVs, comerciais e estatais (p. ex, OESP, FSP,
TVBandeirantes (Jornal das Sete), GloboSat (entrevista no programa Espaço
Aberto, 14/07/2003), revista Galileu, Revista Terra (outubro de 2003), Jornal
da USP (várias vezes), Agência USP (idem), Radio USP, Agência Fapesp, revista
Pesquisa Fapesp (outubro de 2003), ComCiência (SBPC, 03/05/04), e revistas
Época (12/04/2004) e Scientific American (novembro de 2004) (por mera
curiosidade, anexo um exemplar desta, cf. doc. no. 11). Essas matérias
contribuíram certamente para que se formasse uma idéia mais do que favorável
quanto à participação do país no CoRoT.
Tendo por finalidades incentivar e
coordenar essa participação,foi instalado oficialmente em março de 2004, o Comitê Corot-Brasil (CCB), por meio de
Declaração Institutória, assinada por membros dos principais centros de
pesquisa do país (cf. doc. no. 12).
O interesse da comunidade astronômica
brasileira pela missão CoRoT encontra-se num crescendo: na 5th Corot Week
realizada em Berlim (dezembro/03), cinco brasileiros compareceram e
apresentaram trabalhos. Na 6th Corot Week (Orsay, França, maio/04), esse número
subiu para doze (cf. doc. no. 9). Alguns projetos brasileiros estão resumidos
em A-1-4 abaixo.
Com recursos do CNPq, CAPES, FAPESP
(cf. doc. no. 12bis), FAPEMIG e FAPERJ, o CCB promoveu, de 30/10 a 2/11 últimos em Natal (RN), o 1st COROT-BRASIL Workshop, com a finalidade principal de aproximar
a comunidade astronômica brasileira da européia envolvida com o satélite. A
reunião contou com quase oitenta participantes, incluindo cerca de quinze dos
principais cientistas e engenheiros europeus da missão (cf. doc. no. 13). Esse
número mostra o forte interesse atual dos astrônomos pela participação
brasileira no satélite.
O objetivo principal da reunião foi
atingido: novas colaborações foram
estabelecidas no campo das estrelas jovens (envolvendo o IAG, UFMG, ON/MCT, LNA
e a Universidade de Viena), Exoplanetas (IAG, FEG-UNESP e o Laboratório de
Astrofísica de Marseille) e Rotação Estelar (UFRJ, UFRN, Universidade de
Granada e Observatório de Paris-Meudon).
Parte das atividades do CCB tem sido
financiada por Editais Universais (CNPq), pelo Instituto do Milênio MEGALIT e
pelos acordos USP-COFECUB.
A-1-3) Os Objetivos Científicos do CoRoT
Mais de
130 planetas extra-solares são atualmente conhecidos através das medidas
Doppler e podem ser estudados com abordagens estatísticas. O satélite CoRoT irá aumentar a amostra dos
planetas descobertos por um fator três (ou maior) e são esperadas mudanças
significativas em nosso entendimento sobre os sistemas exoplanetários, sua
formação composição e evolução. Extenso trabalho deverá ser feito, por exemplo,
para rever estudos estatísticos prévios feitos com os dados gerados pelo método
clássico das velocidades radiais e concomitantemente, desenvolver outros
métodos adaptados ao caso dos dados do CoRoT.
Uma profunda revisão deverá ser igualmente feita igualmente, no que tange à
estabilidade dos sitemas. Os dados obtidos pelo satélite farão sem dúvida
avançar rapidamente nossos conhecimentos dos sistemas planetários, como jamais
foi feito durante vários séculos. A precisão inédita atingida pelo instrumento
do CoRoT será suficiente para se descobrir pela primeira vez, planetas de
tipo telúrico, localizados nas zonas
habitáveis (entre 200 e 600 °K) dos sistemas extra-solares.
O estudo
físico das estrelas e de suas atmosferas sofreu avanços consideráveis somente a
partir dos anos trinta, quando nossos conhecimentos sobre a estrutura e
evolução estelares começaram a progredir significativamente. Contudo, apesar de
ser o Sol a estrela mais próxima de nós, apenas nas últimas duas décadas
pudemos estudar com precisão algumas das características físicas de seu
interior. Isso ocorreu graças à descoberta de pulsações não-radiais (pnr) observadas na fotosfera solar como um
rico espectro de oscilações com períodos em torno de 5 minutos. A proximidade
dessa estrela permitiu a identificação de quase 10 milhões de modos de pnr
em sua superfície. As frequências dessas oscilações são determinadas pela
física da cavidade onde elas se propagam (isto é, o interior da estrela), da
mesma maneira que as frequências sonoras estacionárias que se formam no tubo de
um instrumento musical dependem das características físicas desse tubo. Através
da inversão dos dados (frequências observadas e sua distribuição no
espaço de Fourier) pode-se deduzir as propriedades do interior das estrelas. A
análise sismológica atua como uma espécie de telescópio que permite “enxergar”
o interior dos astros.
É fundamental estender-se os estudos sismológicos
realizados com o Sol para os mais variados tipos de estrelas, pois assim
avançaremos de maneira significativa em nossos conhecimentos sobre a estrutura
e evolução estelares. O experimento CoRoT
permitirá alcançar esse objetivo.
Cerca de 100 estrelas serão estudadas no programa
sismológico e 60.000, no programa exoplanetas, prevendo-se que serão
descobertos centenas de grandes planetas (tipo Júpiter) e algumas dezenas de Terras. Esse tipo de descoberta científica
causará um enorme entusiasmo no grande público!
Finalmente,
existe um grande número de aplicações dos dados do satélite além dos estudos
sismológicos e da procura de exoplanetas. Programas científicos inéditos
poderão ser realizados, utilizando análises de variações fotométricas das
estrelas ao longo de 150 dias ininterruptos, impossíveis de se obter da
superfície da terra.
A-1-4)
Projetos Científicos Brasileiros para o Satélite CoRoT
Na 5th Corot Week e no 10th SC realizados em
Marseille (junho de 2003), propus, que os cientistas brasileiros ficassem
encarregados de dirigir cinco grupos de temáticos, correspondentes a
temas dominantes na comunidade astronômica brasileira participante no satélite:
binárias em interação (líder: E. Janot Pacheco), estrelas pré-Sequência
Principal (líder: Jane Gregório-Hetem), variabilidade de estrelas azuis (líder:
F. Cuisinier), rotação estelar (líder: J. Renan de Medeiros) e proto-planetas
(líder: R. de la Reza). A proposta foi aceita, e o Brasil recebeu o
direito de indicar cinco “Co-Investigators” para dirigir esses grupos
(cf. doc. no. 14). Os Co-Is tem a responsabilidade de exploração dos dados de
um certo tema e reserva de domínio de um ano sobre eles. Um sexto Co-I
foi conseguido, ao completarmos a quota de 5 pessoas trabalhando nas equipes do
satélite na França.
O SC emitiu um AO para que a comunidade CoRoT
manifestasse seus interesses científicos através de “Letters of Intent”, com
data limite em 1º de novembro de 2003. Astrônomos brasileiros
apresentaram nada menos de dez LoIs: sobre binárias em interação,
cometas, manchas estelares, estrelas pré-Sequência Principal, estrelas
variáveis azuis, fenômenos ligados à rotação estelar, planetas em torno de
estrelas evoluídas, planetas magneticamente ativos, proto-planetas e estrelas
de Wolf-Rayet. Eu participo também de um grupo sobre sismologia de
estrelas quentes, dirigido por colega do Observatório de Paris-Meudon, com quem
colaboro há tempos (vide A-4).
Os projetos científicos propostos pela
comunidade astronômica brasileira para o satélite podem ser examinados no sítio
do CCB: www.astro.iag.usp.br/~corot/index.htm
.
A
missão está em fase de pré-lançamento, mas apesar disso, além das comunicações
participei várias comunicações que apresentei nas Corot Week (cf. doc. no. 9),
participei de outras em congressos (cf. doc. no. 14bis), e de um artigo
submetido em junho/2004 ao Astronomical Journal (cf. doc. no. 14 ter).
A-1-5) Brasileiros
Diretamente Engajados nas Equipes CoRoT
Três engenheiros com
pós-graduação na EPUS, já se encontram na França: os mestre. Leonardo Pinheiro
da Silva e Fábio de Oliveira Fialho, desde 2003. Eles farão seu doutorado
naquele país com o trabalho do CoRoT. O doutor Vanderlei Cunha Parro (professor
da Escola Mauá de Engenharia) integrou-se à equipe de brasileiros como bolsista
de pós-doc a partir do junho/2004, trabalhando nas equipes de software do
CoRoT.
O pesquisador José
Eduardo da Silveira Costa (doutor pela UFRGS) iniciou em agosto/2004 estágio de
pós-doutorado junto à equipe de estrutura interna-evolução estelar do satélite,
no Observatório de Paris-Meudon, e a pesquisadora Cláudia Angeli (doutora por Paris
VII) seguirá o mesmo caminho a partir do início de 2005.
Essas cinco pessoas estão sendo financiadas por bolsas da
CAPES e do CNPq, bolsas essas conseguidas com participação decisiva do CCB.
Como já mencionei, astrônomos das principais
instituições brasileiras do país (USP,
INPE/MCT, Univ. Mackenzie, ON/MCT, LNA/MCT, UFRN, UFRJ, UFMG, UFSC, UFRGS)
encontram-se agora cienticamente engajados na missão CoRoT, participando
inclusive de colaborações internacionais, de observações e análises prévias dos
futuros alvos do satélite.
A-1-6) Recursos
Financeiros do Brasil
Os recursos nanceiros para o custeio da participação
brasileira no satélite CoRoT são relativamente de pequena monta. Além da verba
de operação da estação terrena de Natal (cerca de R$135.000) o país arcará
essencialmente com cerca de US$ 1,000,000 para equipar a estação de recepção de
dados de Natal (RN) e com 5 bolsas de estudo em nível de doutorado ou
pós-doutorado no exterior.
Auxílios adicionais limitados para despesas com intercâmbio
de pesquisadores e para nanciamento de missões na França foram obtidos do
CNPq (Editais Universais) e do programa USP-Cofecub. Foram também solicitados à
FAPESP, via projeto temático. Outras fontes potenciais de recursos para
reuniões no Brasil são os Fundos Setoriais e a Embaixada Francesa no Brasil.
Vale lembrar que o
custo direto (excluídos salários) do projeto CoRoT é estimado em 70 milhões de
Euros, e que o Brasil despenderá menos de US $1,500,000 para ter os mesmos direitos que os parceiros europeus.
A-1-6) Benefícios Advindos de Participação Brasileira
na Missão CoRoT
Como
procurei demonstar até aqui, creio que nosso engajamento na missão CoRoT trouxe
conseqüências muito vantajosas, sob amplos pontos de vista. Pela primeira vez,
astrônomos brasileiros estão envolvidos oficialmente numa missão espacial
científica, usufruindo dos mesmos direitos que os parceiros estrangeiros.
Parece-me óbvio que esse fato está contribuindo decisivamente para
desmistificar esse tipo de atividade e estimular a criação entre nós de uma
cultura de coleta de dados astronômicos a partir do espaço, cultura essa
habitual no primeiro mundo, mas praticamente inexistente até agora no país (cf.
seção A-2).
No Departamento
de Astronomia do IAG, uma dezena de pesquisadores encontra-se agora
envolvida com a missão e participará (com seus estudantes) de pesquisas com o
satélite. Idéias sobre outros experimentos espaciais começam a tomar corpo no
Departamento. De maneira muito significativa, surgiu igualmente nos últimos meses
a idéia de se criar um novo curso, voltado para as ciências espaciais. Essa
idéia progrediu na direção de fazê-lo em parceria com a Escola Politécnica (cf.
seção A-2).
Desde o início de 2004 oriento a
tese de doutorado de Laerte Brandão
Paes de Andrade ( bolsista FAPESP), sobre sismologia de estrelas quentes. Esse trabalho tem dois enfoques: a) aplicação de
critérios de análise de perfis de linhas espectrais (astero-oscilometria) a objetos em rotação rápida e b) o cálculo de modelos oscilatórios não-adiabáticos
para essas estrelas, incluindo efeitos da rotação e do campo magnético. Os
espectros de freqüência previstos por esses modelos serão cotejados com as
observações já existentes e as que serão obtidas com o satélite CoRoT. Laerte
encontra-se fortemente engajado nas atividades do satélite sendo o responsável
pela gestão da página do Comitê Corot-Brasil. Participou da 6th Corot Week,
onde apresentou um painel e faz regularmente espectroscopia de alvos B-Be do
satélite, no LNA. Durante seu doutorado, o aluno fará um estágio no
Observatório de Meudon junto a pesquisadores do CoRoT, especialistas de modelos
de pulsações não radiais de estrelas em rotação.
No
âmbito da Universidade de São Paulo, liderei a montagem do Núcleo de Apoio à Pesquisa Espacial (NAPEspacial, ver A-2). Esses núcleos são
órgãos de integração da Universidade de São Paulo, destinados a reunir
especialistas em torno de programas de caráter interdisciplinar. Espero com
isso, contribuir decisivamente para iniciar atividades concretas na área
espacial na USP, que ainda não atua de maneira significativa no setor.
Os principais
centros de pesquisa em astronomia do país participam hoje do projeto CoRoT.
Promovi a celebração de convênios entre eles e o Observatório de Paris, visando
oficializar essa participação. Já assinaram acordos desse tipo o IAG-USP,
LNA/MCT e ON/MCT (cf. doc. no. 15). Prepara-se documentos semelhantes o INPE,
UFMG, UFRN e FEG-UNESP.
De
maneira mais específica, poder-se-ia ressaltar algumas vantagens dietas,
decorrentes da participação do Brasil na missão CoRoT:
a) em termos do grande avanço em nossos conhecimentos
cientícos, da quantidade de novas linhas de pesquisa que serão criadas, do
número de teses e artigos em revistas internacionais que serão produzidos,
etc...;
b) em termos do avanço técnico que será alcançado,
pelo domínio, por engenheiros brasileiros, da confecção e análise de softwares
com alto grau de performance e conabilidade, área em que o país ainda é
carente;
c) da visibilidade internacional que advirá para o
Brasil pela nossa participação num satélite cientíco em parceria com a ESA,
o CNES e as nações européias que mais se destacam em atividades espaciais;
d) pelo engajamento no projeto de cientistas dos
principais centros de pesquisa e universidades brasileiras trabalhando em
astronomia: USP, MCT/INPE, Mackenzie, UFRN, UFMG, MCT/ON, MCT/LNA, UFSC, UFRGS,
e com o apoio integral da Sociedade Astronômica Brasileira. Várias dezenas de
pessoas até o momento, entre cientistas, técnicos e estudantes de pós-graduação
já atuam ou se manifestaram interessados em participar do empreendimento.
A – 2) O NÚCLEO DE APOIO À PESQUISA
ESPACIAL (NAPEspacial)
A
criação do NAPEspacial, que tomei a iniciativa de propor à Pró-Reitoria de
Pesquisa da USP em novembro de 2004 (cf. doc. no. 16), foi uma das
conseqüências naturais de meu engajamento no projeto CoRoT. Ao militar por ele,
percebi a importância de se criar na USP uma estrutura que promovesse e desse
apoio às atividades científicas espaciais em Astronomia que doravante,
certamente se acelerarão no país. Descrevo rapidamente abaixo o ambiente que
culminou com a criação desse novo Núcleo.
Os
núcleos de apoio à pesquisa são órgãos da Universidade de São Paulo ,
instituídos com o objetivo de reunir especialistas de um mais unidades em torno
de programas de pesquisa de caráter interdisciplinar.
A–2-1) As Motivações do NAPEspacial
As informações
contidas na radiação eletromagnética que chega até a Terra constituem o
meio mais eficiente de que dispõe o ser humano para estudar o Universo. Desde
tempos primitivos, o homem se interessa pelos fenômenos celestes. Por muitos
séculos, limitou-se apenas a observações visuais. A partir do final da Segunda
Guerra Mundial, começou a analisar também as ondas de rádio provenientes do
espaço. Desde o início da década de sessenta, experimentos inicialmente a bordo
de foguetes e em seguida de satélites, permitiram aumentar em muitas ordens de
grandeza a extensão do espectro eletromagnético observado, sobretudo na direção
das altas energias (raios X e gama, que são absorvidos pela atmosfera).
Descobriram-se assim no Universo, novos fenômenos até então insuspeitados,
ocorrendo muitas vezes em condições físicas extremas. Eles permaneceram
ignorados por muito tempo, pois não se manifestam (ou muito pouco) nas regiões
do visível e rádio.
Outra razão que torna indispensável a utilização de satélites
na observação de fenômenos astrofísicos é a necessidade de se observar por
longos intervalos de tempo (maior do que 10-12 horas), impossível de ser feito
da superfície da Terra, em razão da alternância dia-noite.
A partir dos anos sessenta,
desenvolveu-se rapidamente na comunidade científica dos países desenvolvidos o “know-how” técnico e a cultura utilitária
dos experimentos espaciais, num ambiente financeiro favorável. Nesses
países, as missões espaciais científicas sucedem-se em ritmo regular,
impulsionadas pela necessidade da obtenção de dados sobre fenômenos celestes
recém descobertos ou previstos, e de se testar modelos físicos que os
expliquem.
No Brasil, essa
cultura ainda é incipiente, e as atividades ligadas ao espaço tem se concentrado
essencialmente no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, com sede em
S. José dos Campos/SP), órgão pertencente ao Ministério de Ciência e
Tecnologia. O INPE constitui o braço executivo da Agência Espacial Brasileira,
encarregada de administrar o Plano Nacional de Atividades Espaciais (cf. www.aeb.gov.br/ ; www.inpe.br).
Desde sua fundação, esse instituto vem acumulando uma reserva considerável de
conhecimentos sobre missões espaciais, sobretudo do ponto de vista técnico. Sua
competência em participar da construção e testes de satélites é reconhecida
internacionalmente. Através dele, o Brasil envolveu-se com outros países em
missões essencialmente de comunicações ou de coleta de dados terrestres (cf.
sítio acima)
Até recentemente, os astrônomos
brasileiros participaram de observações a partir do espaço apenas em caráter esporádico e individual, por
meio da obtenção de tempo de observação (sempre muito limitado) em satélites
abertos à comunidade internacional ou de colaborações científicas
internacionais. Esse cenário tem apresentado nos últimos anos sintomas
favoráveis a mudanças substanciais,
como se verá a seguir.
Configura-se desde já a necessidade de
se montar estruturas de apoio às atividades científicas espaciais da comunidade
astronômica brasileira. A Universidade de São Paulo tem uma proverbial vocação
de liderança no meio científico e tecnológico nacional. Abriga p. ex. no IAG, o
maior e mais produtivo departamento de astronomia do país. A existência na USP
de um NÚCLEO DE APOIO À PESQUISA ESPACIAL (NAPEspacial), congregando
pesquisadores de suas unidades e também representantes das principais
instituições brasileiras na área, vem responder a essa inapelável vocação de
liderança (cf. logotipo na Fig. 3).
O NAPEspacial terá por finalidade
promover e incentivar a participação de pesquisadores brasileiros em projetos
espaciais e a formação de especialistas na área e fomentar o estabelecimento
das colaborações multidisciplinares que se fizerem necessárias para isso, nos
âmbitos brasileiro e internacional.
Esse novo núcleo de apoio à pesquisa da
USP deverá entrar de imediato em regime
de cruzeiro.
Com efeito, como exposto acima (A-1),
estamos fortemente engajados na missão
espacial francesa CoRoT, sob a liderança do IAG/USP (cf. http://serweb.oamp.fr/projets/corot/,
www.astro.iag.usp.br/~corot/index.html).
A
comunidade astronômica brasileira
planeja atualmente a construção de dois
satélites científicos, liderados por membros do NAPEspacial: o MIRAX (Monitor e Imageador
de Raios X, projeto em fase mais avançada, dirigido por João
Braga, do Depto. de Astrofísica do INPE, cf. http://www.cea.inpe.br/mirax) e o BIS (Brazilian Infrared Satellite),
liderado por Jacques Lépine (IAG-USP) e José Renan de Medeiros (UFRN), em
parceria com o Observatório de Paris. Dado o montante de investimentos
envolvidos em missões espaciais, esses projetos incluem necessariamente forte
participação de centros de pesquisa americanos e europeus.
Outra atividade
fundamental a ser apoiada pelo NAPEspacial num futuro imediato será
a montagem na USP de um novo curso de
ciências e técnicas espaciais. Inspirado no modelo do curso
multi–disciplinar de ciências da computação do campus de São Carlos, essa nova
opção de carreira está sendo planejada com muito interesse por professores do IAG e da Escola Politécnica, e virá
preencher uma lacuna existente
atualmente na Universidade de São Paulo. As discussões atuais apontam para
um curso com duração de cinco anos, comportando disciplinas com recorte mais
científico (p. ex., astrofísica e mecânica orbital) e outras essencialmente de
engenharia (como termologia, telecomunicações, produção de energia e
resistência dos materiais). O formando terá qualificações de
engenheiro-cientista. Para a definição exata de seu perfil, discutiremos também
com membros do INPE e de indústrias de ponta ligadas a atividades espaciais,
instaladas sobretudo no Vale do Paraíba.
O Núcleo de Apoio à Pesquisa Espacial
terá pois, o papel de coordenar os esforços de implementação de atividades
científicas e técnicas na área espacial, sob a liderança dos
docentes/pesquisadores da USP. Caberá portanto a ele, patrocinar as discussões
necessárias para tanto e implementar ações concretas resultantes dessas
discussões. Os recursos financeiros necessários ao funcionamento do NAPEspacial
serão obtidos junto aos órgãos financiadores de pesquisa nacionais e
estrangeiros. Uma primeira fonte de recursos é o Edital Universal que obtive
para o CoRoT (em vigência). Pedido de financiamento foi igualmente incluído num
Projeto Temático que será apresentado à FAPESP em janeiro de 2005.
A
Comissão Provisória de instalação do NAPEspacial
é coordenada por mim e conta com outros quatro professores do IAG e da Escola Politécnica. Fazem
parte do Núcleo doze docentes do IAG, seis da EPUSP, representantes dos
principais centros de pesquisa astronômica do país, três cientistas franceses
envolvidos com satélites e estudantes, num total de 26 pessoas.
A – 3) A ALTA RESOLUÇÃO ANGULAR (ARA)
A astronomia constitui um ramo da
física cuja especificidade reside no fato de que os cientistas são meros expectadores dos fenômenos com que trabalham,
não podendo interferir no laboratório em que eles ocorrem. Vale lembrar que
essa desvantagem é certamente compensada pelo fato de que tais fenômenos no
mais das vezes se produzem em condições físicas extremas, impossíveis de serem
reproduzidas (e estudadas) em laboratórios terrenos.
Uma mudança qualitativa histórica está começando a se operar na
astronomia, comparável talvez apenas à que ocorreu com o acesso a observações a
partir do espaço. Trata-se da entrada em funcionamento (inicialmente no
infravermelho) dos primeiros instrumentos
ópticos de ARA de grande porte, em particular os interferômetros e espectro-interferômetros. O fato de se poder
resolver espacialmente uma grande variedade de objetos, e alguns primeiros
resultados espetaculares permitem vislumbrar avanços muito promissores.
As técnicas de ARA fornecerão
informações muito detalhadas, por exemplo, sobre as formas, condições
superficiais e até a estrutura interna das estrelas, via detecção precisa do
padrão das pulsações não radiais (cf. A-4). Grandes avanços serão portanto obtidos em física estelar, sobretudo em problemas relacionados à rotação,
estabilidade, à atividade superficial de origem magnética e às anomalias de composição
química .
Vários
outros campos da astrofísica serão igualmente beneficiados, como por exemplo:
-- imagens detalhadas de discos de poeira em torno de estrelas jovens fará progredir rapidamente o campo da formação estelar e planetária. Os instrumentos já existentes no Very Large Telescope Interferometer (VLTI, ESO, Chile; trata-se de um conjunto de quatro telescópios de 8,4 metros de diâmetro, secundado por outros de dois metros) são capazes de resolver estruturas do tamanho da órbita de Mercúrio, nas regiões de formação estelar próximas;
--
será possível observar as regiões centrais das galaxias próximas, fazendo
avançar significativamente nossos conhecimentos sobre os buracos negros que existem nessas regiões;
--
Será detectada pela primeira vez a luz dos “Júpiteres quentes”, grandes planetas extrasolares descobertos muito
próximos de suas estrelas. Isso permitirá estudar-se suas atmosferas e a
interação com a estrela próxima.
A-3-1) Minha Participação na Alta Resolução Angular
Desde
o início dos anos 90, dediquei-me ao estudo sismológico de estrelas quentes.
Uma das técnicas utilizadas para isso é o imageamento
Doppler, que fornece um mapa de velocidades da superfície estelar, no caso
a partir de espectros. As vantagens de tal imageamento para a modelização das
pulsações não-radiais das estrelas foram eloqüentes (cf. A-4).
A
partir dessa experiência, vislumbrei as
grandes potencialidades futuras da ARA em astrofísica estelar. Procurei
então, aproximar-me de centros que se sobressaíam nesse campo. Estabeleci um programa de colaboração com o grupo de
F. Vakili, do Observatório da Côte d’Azur e Nice (OCAN), que já exercia intensa
atividade em ARA, tanto teórica quanto experimental. Esse programa culminou com
o envio de um estudante (Armando
Domiciano de Souza Jr., que acabara de fazer mestrado sob minha orientação no
IAG), para realizar seu doutorado no OCAN, em regime de co-orientação entre eu e F. Vakili, num programa híbrido:
sismologia estelar via técnicas interferométricas. No trabalho, Souza Jr.
desenvolveu pela primeira vez, teoricamente modelos e interpretações para
observações interferométricas de estrelas quentes, fazendo avançar
significativamente nossos conhecimentos no tratamento da rotação estelar, da
distribuição de temperatura na superfície das estrelas (efeito von Zeipel) e no
imageamento Doppler.
A tese (cf. doc. no. 17) foi apresentada
no dia 28/11/2003 na Faculdade de Nice, e aprovada “avec les compliments du jury”, que é a maior lauda existente
atualmente na França. Além de F: Vakili e de mim mesmo, compuseram a banca
astrofísicos europeus de sólida reputação (H. Henrichs, A. Glindemann e J-P
Zahn). Da tese fizeram parte quatro artigos publicados na revista a “referee”
Astronomy and Astrophysics (dos quais sou co-autor) e quatro comunicações em
congressos internacionais.
Num
desses artigos (A&A 207, L47, 2003) Armando lidera a interpretação de observações interferométricas no VLTI-ESO
da estrela Be Alfa Eridani. O resultado é impressionante (cf. Figuras 4 e
5): a estrela (que gira a quase 500 km/s no equador), apresenta um forte e inesperado achatamento (razão
dos raios equatorial e polar de mais de 1,5), e isso provocará a revisão dos modelos existentes sobre a
rotação diferencial, o efeito Von Zeipel clássico a hidrodinâmica estelar e a
estabilidade dos rotatores rápidos. Detalhe jocoso: o resultado foi incluído no
”Guinness Book of World Records”, edição de 2005 (The Flattest Star)!
O sucesso de sua tese levou Armando a conseguir um estágio de pós-doc de dois anos no Max-Planck Institut fur
Radioastronomie de Bonn (Alemanha), com financiamento local.
A-3-2) O Futuro da Alta Resolução Angular no Brasil
A
colaboração com o grupo de Nice continua. Ele agora está estabelecido na
Universidade de Nice - Sophia Antipolis, onde F. Vakili é diretor do Laboratoire Universitaire d'Astrophysique
(LUAN). O grupo é um dos mais importantes do mundo atualmente, participando de
vários projetos internacionais. Ele liderou o projeto e construção do
espectro-Interferômetro AMBER, que foi instalado no início do ano no VLTI. Esse
instrumento é o único que utiliza a luz de três dos telescópios de 8,4m, e
opera no IV próximo, devendo chegar no futuro até o visível (H Alfa), o que
permitirá estudos ainda mais interessantes.
Iniciamos no ano passado um programa
espectroscópico de estabelecimento de
estrelas-padrão para o AMBER no LNA, com a Câmera Infravermelha (CamIV)
brasileira (cf. doc. no. 18) . A CamIV, instalada no foco coudé do telescópio
de 1,60m que tem resolução espectral de 15.000, muito próxima do AMBER. Três
missões foram já realizadas, e solicitamos novamente tempo para 2005.
Participam desse programa além de mim e estudantes, os profs. A. M. Magalhães e
A. Damineli.
A colaboração com LUAN transcende obviamente minha pessoa, e
assegurará ao país, sob a liderança do IAG-USP, o acesso ao maior
interferômetro óptico atualmente existente no mundo, o VLTI.
Os instrumentos envolvidos em ARA são
via de regra complexos e de custo elevado. Tendo em vista as imensas vantagens
que essa técnica traz para a astronomia, creio que deveríamos sem mais delongas
engajar-nos nessa área, certamente
sob a forma de colaborações
nacionais e internacionais, visando equipar com instrumentos de ARA os
telescópios SOAR e GEMINI.
A – 4) A SISMOLOGIA ESTELAR
Esse foi o principal ramo de pesquisa
ao qual me dediquei na última década e que gerou o maior número de publicações.
Como
disse, engajei-me no estudo sismológico de estrelas
quentes a
partir do início dos anos 90. Para tanto, estabeleci colaboração com o grupo de estrelas Be do Observatório de
Paris-Meudon (chefiado por A.M Hubert), a fim de me beneficiar da maior
experiência deles na área. Ela compreendeu a obtenção e análise conjunta
de material espectroscópico (de alta resolução e alta relação sinal/ruído),
obtido no Laboratório Nacional de Astrofísica (Brazópolis, MG), no Observatório
de Haute-Provence (França) e no ESO (Chile). No Departamento de Astronomia
(DA), fui auxiliado por meu colega N.V. Leister, especialista em análise
temporal Colhemos um grande número de dados espectroscópicos de alta resolução
e alta relação S/R sobre algumas estrelas brilhantes dos dois hemisférios
celestes; sua análise fez avançar de maneira significativa o panorama das
oscilações não-radiais em estrelas de tipo OBA com linhas de emissão.
Querendo
evitar prolixidade de natureza técnica, exponho em documento anexo (doc. no.
19), os aspectos fundamentais dessa minha linha de pesquisa, documento esse que
compreende as seguintes seções: Panorama geral da sismologia estelar,
Asterossismologia e atividade nas estrelas OBAe, Métodos de análise
estatística, Imageamento Doppler, Astero-oscilometria, Imageamento
interferométrico Doppler e Últimos desenvolvimentos na área.
Doze
publicações em revistas a “referee” e duas
dezenas de comunicações em congressos internacionais com minha participação
foram produzidas na área (cf. CURRICULUM VITAE).
Cinco
teses de mestrado (Maria Tereza Couto Buck, Marcelo Emilio, Armando
Domiciano de Souza Jr, Ronaldo Savarino Levenhagen e Marcus Vinicius Massa
Fernandes) e uma de livre docência (Eduardo Janot Pacheco) foram defendidas em sismologia estelar até hoje no DA.
Outra de doutorado está em andamento (de Laerte Andrade, trabalho descrito na
seção A-1-6 acima).
A – 5) ASTROFÍSICA DE ALTAS ENERGIAS:
FONTES DE RAIOS X
Essa linha de pesquisa é reminiscente
do trabalho de doutorado, que defendi na França em 1987. Ela beneficia
igualmente de colaboração internacional, desta feita com o grupo de altas
energias do Observatório de Estrasburgo (França), chefiado por C. Motch. Esse
pesquisador é o diretor do “Survey
Science Centre” do recente satélite europeu de raios X, “X-Ray
Multi-Mirror” (XMM). A finalidade do SSC é a de assegurar o cruzamento de
informações dos dados do satélite com os diversos catálogos existentes no
“Centre des Données Stellaires”, instalado no observatório. Para isso, foi
criado pelo grupo um sistema automático otimizado ("pipe-line ") de
grande eficiência (cf. o site http://xmmssc-www.star.le.ac.uk).
Essa
colaboração nos propicia utilizar de
maneira privilegiada observações e dados desse moderno satélite de raios X.
Retomei
com maior intensidade há cerca de dois anos o trabalho no campo das fontes
binárias de raios X, ocupando-me com a interpretação de observações
espectroscópicas e fotométricas, no visível e em raios X. Os dados ópticos
provêem do LNA, Haute Provence (França) e ESO (Chile). Medidas em raios X tem
sido feitas com o satélite XMM (ESA).
Procurando evitar como acima, excesso
de detalhes técnicos no presente texto, anexo documento com descrição detalhada
dos principais temas astrofísicos com que tenho trabalhado, juntamente com meus
alunos (cf. doc. no. 20). Ele aborda: Fontes binárias de raios X, As fontes
massivasde raios X, As fontes supermoles, O programa de colaboração com
Strasbourg, O satélite XMM, Modelização da acresção a partir de
envelopes Be e Perspectivas futuras.
Orientei
uma dissertação de mestrado (de Raimundo Lopes de Oliveira Filho, apresentada
em agosto/03), sobre o problema da acresção em binárias X (cf. doc. no. 21).
Nesse trabalho, o estudante estendeu cálculos que eu havia feito em meu
doutorado, sobre o problema da acresção sobre estrelas de nêutrons de matéria
do envelope circunstelar de estrelas Be. Artigo
a respeito encontra-se em preparação (cf. doc. no. 22)
Duas
teses de doutorado estão sendo produzidas atualmente no DA-IAGUSP, em
regime de co-tutela com C. Motch. em
altas energias, por Raimundo Lopes de
Oliveira Filho e Adriana Mancini
Pires.
O programa de doutorado de Raimundo
trata de estudar fontes binárias
massivas de raios X, formadas por uma estrela O-B e um objeto compacto.
Essas fontes concentram-se no plano da Galáxia. Algumas dezenas de sistemas
desse tipo foram descobertos, graças às observações em raios X, sobretudo com o
satélite ROSAT. Com o lançamento do satélite XMM-Newton, de alta performance,
avanços importantes na área tem sido alcançados, permitindo aumentar
significativamente nossos conhecimentos sobre esses objetos. Procederemos à
procura de novas fontes massivas, em particular de sistemas WD/BE em aglomerados abertos, através de observações com
XMM do plano galáctico. Identificações ópticas das binárias serão obtidas com
os telescópios SOAR e 1,60 m do LNA. Raimundo encontra-se atualmente em estágio
de um ano no Observatório de Estrasburgo, analisando dados do satélite.
Adriana
Mancini Pires estudará estrelas de
nêutrons isoladas com forte emissão de raios X e sem emissão rádio,
descobertas recentemente. Com o advento dos satélites XMM-Newton e CHANDRA e de telescópios
ópticos de grande porte, é possível estudar-se em detalhe a população galáctica
dessa nova classe de objetos. Pretende-se com isso fazer avançar nossos
conhecimentos sobre as propriedades das estrelas de nêutrons e sobre fenômenos
físicos ocorrendo em condições extremas
de gravidade e campo magnético. Adriana fará um primeiro estágio de um mês em Estrasburgo em fevereiro
próximo, afim de se familiarizar com o tratamento de dados do XMM. Várias
missões em raios X e no óptico foram concedidas para esse programa em 2005
(XMM, Chandra, ESO, LA Palma, Haute Provence).
Outro estudante, Wilson
da Costa Façanha, iniciará em 2005 mestrado. Seu tema de trabalho será analisar
as propriedades ópticas de microquasares da Galáxia e eventualmente das Nuvens
de Magalhães, através de um conjunto de observações espectroscópicas e
polarimétricas homogêneas (isto é, obtidas através dos mesmos instrumentos) e
de dados da literatura. Essas propriedades serão analisadas com o intuito de se
construir uma taxonomia óptica dessa classe de objetos. Para isso, as
propriedades ópticas dos objetos serão também confrontadas com suas
características em outros comprimentos de onda (rádio, altas energias) e com
suas variações temporais. Esse trabalho deverá em última análise fornecer
subsídios para a sinergia entre buracos negros estelares, AGNs e Bursters de Raios Gama.
PARTE B: -- OS ANOS ANTERIORES
Minhas atividades profissionais nos
anos anteriores a 2000 encontram-se descritas abaixo, em ordem cronológica.
B.1 - ANTECEDENTES ACADÊMICOS E
INICIAÇÃO CIENTÍFICA
O périplo do autor pelos mares da
Astronomia se inicia em 1961, quando cursava o segundo ano do curso científico
do Colégio Estadual de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Juntamente com alguns
colegas, fundei a Sociedade de Estudos Astronômicos de Minas Gerais, com a
finalidade de promover a disciplina sob diversas formas, principalmente através
de palestras, que reuniam já à época, uma centena de pessoas de cada vez. Essas
atividades serviram naturalmente para aumentar - na medida das possibilidades
técnicas dos estudantes de então - os conhecimentos daquele grupo de amadores,
que ampliaram suas atividades e seu número (muitos livros profissionais foram importados
...). Vários membros daquela Sociedade tornaram-se astrônomos profissionais.
Iniciada a Escolha de Sítio para o
futuro Observatório Astrofísico Brasileiro, trabalhei como observador nas
estações experimentais de Piedade e Mateus Leme (MG) de 1965 e 1968. Naquela,
foi posteriormente construído o Observatório Astronômico da UFMG, operado pelo
Departamento de Física do ICEX.
Cursei Engenharia Elétrica na Escola de
Engenharia da UFMG, de 1963 a 1967; concomitantemente, frequentou (de 1965 a
1968) o Curso de Ciências e Técnicas Nucleares, da CNEN, realizado em convênio
com a EEUFMG e o Instituto de Pesquisas Radiativas da UFMG. Nos anos de 1965/66
estagiei no Instituto de Pesquisas Rádioativas da UFMG como bolsista de
Iniciação Científica da CNEN, na Seção de Contagens; fez um levantamento
detalhado do fluxo neutrônico do reator TRIGA MARK II, do IPR, e participei das
atividades de rotina da Seção.
Formado em Engenharia Nuclear, fui
admitido por concurso, em 1968, para trabalhar no "Grupo do Tório" do
IPRUFMG, grupo esse que projetava um reator de potência utilizando água pesada
como moderador e tório não enriquecido como combustível. O projeto ameaçava
poder tornar o país auto-suficiente em geração núcleo-elétrica (a exemplo da
Argentina); a CNEN extingui-o poucos anos depois. Durante esse ano de trabalho
no Grupo do Tório, realizei um estudo sobre reatividade de barras de contrôle e
performance de diversas configurações dessas barras em reatores a tório e água
pesada.
B.2 - MESTRADO EM ASTRONOMIA NO ITA
O trabalho de mestrado foi sugerido por
J.A.F. Pacheco e S. Ferraz de Mello, e consistiu basicamente na detecção de
companheiros de estrelas variáveis pulsantes de tipo d Cephei e na análise das características dessas
binárias, por meio de observações fotométricas (que é o que se dispunha no ITA
àquela época) no sistema de seis cores (UVBGRI) de Stebbins. Em diagramas a
duas dessas cores, as Cefeidas descrevem um anel, ao longo de seu ciclo de
variação; as estrelas duplas percorrerão um anel de características especiais,
segundo o tipo espectral do companheiro, que pode também ser inferido. Das 18
estrelas observadas, 7 se mostraram duplas.
Um longo estudo foi igualmente
realizado, sobre as relações entre diversos parâmetros dos objetos (período,
cores, gradientes, tipo espectral) e a duplicidade, deixando várias idéias para
novas pesquisas em aberto. O trabalho deu origem a quatro publicações,
sendo três em revistas internacionais com arbitragem (cf. curriculum vitæ, a
seguir).
A tese foi defendida e aprovada em
03/04/1973. Não se atribui conceitos no ITA.
Uma das sugestões para futuras
pesquisas apontadas na tese foi adotada como tema de trabalho de mestrado por
Fernando Camelier, estudante do Departamento de Física da UFMG. Tratava-se da comparação
entre os resultados de cálculo de raios de Cefeidas, seguindo-se os métodos de
Wesselink e de Kurochkin; sob minha orientação inicial (nos anos de 1973/74), e
posteriormente do astrônomo belga Eric Elst, a tese em questão foi concluída e
defendida junto à UFMG em Março/1977, tendo como título "Cálculo dos raios
médios de Cefeidas Clássicas".
B.3 - DOUTORADO EM ASTROFÍSICA E TÉCNICAS ESPACIAIS NO OBSERVATÓRIO DE
PARIS-MEUDON /UNIVERSIDADE PARIS VII
Realizei um estágio de cinco anos e
meio em Meudon, quando trabalhei junto ao grupo de Astronomia X e Gama,
liderado por C. Chevalier e S.A. Ilovaisky. Intensa atividade observacional e
de tratamento de dados fotométricos e espectroscópicos foi também levada a
efeito. Iniciei, então, o trabalho de doutorado, com análise de material
espectroscópico de alta resolução (câmara eletrônica e placas nucleares) de
fontes de raios X a companheiro de tipo Be (estrelas B com linhas de Balmer em
emissão).
Esses anos de convívio com o meio
francês e europeu e com suas numerosas atividades de pesquisa foram de valor
inequívoco para minha formação e maturidade.
De volta ao Brasil, cuidei de
estabelecer programas de colaboração com pesquisadores franceses da área, para
que fosse possível ter acesso a dados dos satélites de raios X, condição sine qua non para que o trabalho pudesse
ser levado avante. Entre 1980 e 1985 foram colhidos novos dados em várias
regiões espectrais (IV-Visível-UV-X) e com diversos instrumentos e técnicas
(espectroscopia Cassegrain e coudé; fotometria UBVRI + JHKLM + Hb; espectroscopia com IUE; fotometria, espectroscopia e
imageamento com o satélite europeu de raios X EXOSAT).
A tese foi composta de texto e seis
artigos, publicados em revistas internacionais com arbitragem; deu também origem
a várias outras publicações e trabalhos apresentados em reuniões internacionais
(cf. curriculum vitæ, em seguida).
Minha intenção foi fazer avançar nossos
conhecimentos sobre as fontes transitórias de raios X com companheiro de tipo
Be, e sobre as estrelas Be em geral. Do ponto de vista do estudo dos sistemas
Be/X, apresentei uma interpretação quantitativa da relação entre os períodos de
rotação e os períodos orbitais, através de um modelo em que a acreção se dá a
partir do envelope equatorial da Be, produzindo assim, raios X. O modelo
reproduz igualmente muito bem o fluxo de raios X produzido. Consequências
evolutivas decorrem dessa interpretação. Prevê -se, por exemplo, uma diminuição
do campo magnético da estrela de neutrons com o tempo, resultado confirmado
qualitativa e quantitativamente; prevê -se também que as estrelas de neutrons
devem aumentar suas velocidades de rotação ao longo de suas vidas como fontes
X/Be.
Sob o prisma da utilização das estrelas
de neutrons como sondas dos envelopes Be, o trabalho aponta também para
conclusões interessantes: a interpretação do diagrama Prot X Porb
para as fontes Be/X, indica que os envelopes circunstelares possuem
propriedades médias bastante semelhantes e estáveis; os resultados apoiam
fortemente modelos de envelopes com grande concentração equatorial e aceleração
radial considerável, atingindo a velocidade de escape a algumas dezenas de
raios estelares da superfície da Be.
A apresentação da tese ocorreu em 18 de
dezembro de 1987, no Observatório de Paris-Meudon, tendo obtido a maior menção
existente então na França: "Très
Honorable".
B.4 - OUTRAS ATIVIDADES DE PESQUISA
ANTES E APÓS O DOUTORADO
a)
Polarização Interstelar
Ainda no início dos anos 80, orientei
dois trabalhos de Iniciação Científica, deixados como herança quando da
transferência para o ON/Rio de Janeiro do Prof. Said Codina. Foram trabalhos
envolvendo análise detalhada da absorção e polarização interestelares, e os
resultados, apresentados sob forma de diagramas distância X seção circular
galáctica, foram assaz interessantes; mereciam ter sido publicados, à época.
b)
Estudos polarimétricos de envelopes de estrelas Be
Tratei também de realizar estudos sobre
estrelas Be não-duplas. Entre 1982 e 1984, orientei um trabalho de pesquisa sobre
propriedades dos envelopes de estrelas Be, deduzidas a partir de medidas
polarimétricas. Observei com o estudante estrelas membros de aglomerados
abertos, pois nesses casos seria possível separar a polarização interestelar da
intrínseca. O candidato a mestre desistiu da carreira de pesquisa na fase de
comparação dos dados observacionais com alguns modelos teóricos, indo trabalhar
como tradutor/revisor em uma editora, e posteriormente, no CNPq (Brasília).
c)
O aquecimento das atmosferas externas de gigantes e supergigantes vermelhas
Outra pesquisa de fôlego foi aquela
sobre as cromosferas estelares e sua relação com a perda de massa. A idéia do
trabalho consistiu em utilizar medidas das linhas de emissão H e K do Ca II
(situadas em comprimentos de onda ll 3933 e 3968 Å), linhas essas produzidas por um
mecanismo não de todo compreendido, mas dependente indubitavelmente da energia
magnética disponível na base da cromosfera. Através do estudo do comportamento
dessas linhas, pode-se retraçar o papel "invisível" da energia
magnética no aquecimento das camadas externas da estrela (cromosfera, região de
transição e coroa), e, consequentemente, na perda de massa. Variações no
comportamento da emissão do Ca II (leia-se, da energia magnética) com a evolução
estelar, com a temperatura, classe de luminosidade e velocidade de rotação e
sua correlação com outros indicadores, cromosféricos ou não, foram examinadas;
estudos da estrutura dinâmica da baixa cromosfera foram também realizados. O
trabalho, iniciado como mestrado, foi posteriormente transformado em doutorado
de minha orientanda Sandra A. Gonçalves. A tese foi defendida no segundo
semestre de 1995.
d)
Fontes binárias de raios X
Boa parte de meu tempo desde o
doutorado foi dedicada às pesquisas sobre fontes transitórias de raios X do
tipo Be/X. Artigos e apresentações em congressos internacionais foram
realizados entretempos; outros estão no prelo.
Em 1990, iniciei a orientação de um
trabalho de mestrado sobre modelização de fontes massivas de raios X. A idéia
foi estabelecer-se uma comparação entre dados observacionais X, UV e ópticos
com modelos teóricos para essas fontes, e fazer avançar nossos conhecimentos na
área. O estudante foi Jeferson Barbosa da Silva, docente da UNESP/Bauru.
Desistiu da carreira de pesquisa em prol de atividades sindicais! Sendo um tema
rico e de fácil realização, retomei-o mais tarde, no trabalho de mestrado de
Raimundo Lopes de Oliveira Filho (cf. A-5).
Participei da realização de um estudo
detalhado sobre os efeitos de composição de velocidades entre os envelopes Be
em expansão e as estrelas de neutrons, ao longo das órbitas, que havia iniciado
na tese de Doutorado; consegui, assim, colaborar para explicar os
"bursts" X dessas fontes, seu caráter de duplo pico eventual e sua posição
em fase (Motch et al. 1991).
O programa de colaboração com
pesquisadores franceses dos grupos de astronomia X e Gama foram e continuam a
ser cruciais para o trabalho no assunto. Em particular, pude assim participar
em missões de observação com os satélites EXOSAT e IUE (vide doc. anexa). Delas
resultaram em parte a tese de doutorado e várias publicações. Em meados dos
anos 90 anos, as atividades na área foram reaquecidas pela utilização dos dados
do satélite alemão de raios X ROSAT.
Meu principal colaborador, Christian Motch (do Observatoire de Strasbourg), foi o PI responsável e com prioridade nas identificações e estudos em
outros comprimentos de onda das fontes do plano galáctico. Desde 1992,
participei desse trabalho, com observações espectroscópicas no L.N.A. de
binárias X a companheiro massivo (BRXM). Um longo (33 páginas!), primeiro
artigo a respeito de identificações e estudos sobre a população galáctica das
BRXM foi publicado no A&A (Motch et al. 1997). Essa pesquisa se extenderá
por mais alguns anos, inclusive com observbações no LNA.
Terminei recentemente um trabalho
conjunto de análise do comportamento das binárias massivas em geral (OB/X e
Be/X) no diagrama Prot X Porb, levando em conta medidas
recentes de parâmetros desses sistemas, encontradas na literatura (campo
magnético, raio. massa, velocidade do vento, etc...), e seus respectivos erros
experimentais; mostrei que nosso modelo de acresção a partir do envelope
equatorial do companheiro Be explica perfeitamente o comportamento desses
sistemas, mas que, no caso das fontes OB/X, a acresção via vento estelar quente
e rápido não consegue reproduzir a posição desses sistemas no referido
diagrama. Comentários e sugestões para futuras pesquisas foram também
produzidos (Janot-Pacheco et al. 1995). O fulcro dessa pesquisa foi um trabalho
de IC (FAPESP), que já resultou numa comunicação em congresso internacional e
outras em reuniões no país.
e)
Astrossismologia de estrelas quentes
Desde o início de 1990, realizo
pesquisas em Astrosismologia - o estudo de pulsações não-radiais em estrelas -
a partir de observações com alta resolução espectral (» 50.000) e alta relação Sinal/Ruído (³250). A fertilidade dessa disciplina deu origem à
formação de um grupo para estudos sismológicos estelares no Departamento de
Astronomia do IAG. O projeto de pesquisa respectivo busca fazer avançar nossos
conhecimentos sobre a física das estrelas de tipo espectral O-B, através do
estudo de características apresentadas por suas superfícies, via o
comportamento de linhas espectrais e do nível fotométrico.
Conto, para esse trabalho, com o apoio
valioso de um programa de colaboração científica que estabeleci, em 1991, com o
grupo semelhante francês do Observatoire
de Paris-Meudon (A.-M. Hubert, M. Floquet, D. Briot e H. Hubert). Do lado
brasileiro, estão envolvidos os profs. E. Janot Pacheco e N.V. Leister
(IAG-USP), e o recém-doutor pela Université
Paris VII S. Jankov, um especialista em tomografia
Doppler, que permaneceu por dois anos no IAG-USP, a partir do segundo
semestre de 1995; participam também dois estudantes de mestrado e bolsistas de
IC (FAPESP, CNPq
Através dessa colaboração, tive acesso
a observações com satélites, a programas avançados de tratamento de dados e a
intercâmbio com meios científicos mais desenvolvidos. Graças a ela, participei,
em janeiro/fevereiro e novembro de 1994, de campanha internacional multisítio
de observações da estrela Be l Eri, e também em novembro, da última campanha MUSICOS
(Multi-Site Continuous Spectroscopy); em ambos os casos procurou-se obter
medidas com extensa cobertura temporal de alguns objetos especialmente
interessantes, visando resolver a superfície das estrelas, através do estudo
das variações causadas nas linhas espectrais pela passagem de contrastes de
temperatura, densidade e/ou velocidade pela linha de visada, em consequência da
rotação estelar. Maiores detalhes sobre as atividades nesse campo estão em A-4-
Desde 1993, orientei um programa de
mestrado versando sobre uma análise sismológica da estrela Be austral a Eridani (Achernar), na qual descobrimos a
presença de PNR, através de observações espectroscópicas. Resultados
preliminares foram apresentados no simpósio UAI No. 162. A dissertação, de
autoria de Maria Tereza C. Buck, defendida em 12/04/96. Três trabalhos de IC em
asterossismologia foram também realizados nessa época, resultando em
comunicações também no simpósio referido acima e em outras reuniões científicas
no Brasil.
Minha Tese de Livre-Docência versou
sobre minhas contribuições para o estudo sismológico de estrelas Be.