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Foi
um dos primeiros alunos da recém criada
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de
São Paulo para
onde se transferiu após dois anos na Escola Politécnica e
onde graduou-se em
Física em 1938, aos 21 anos. Participou com Mário
Schenberg e Walter Schützer
do primeiro grupo de pesquisa em Física Teórica criado na
USP pelo Professor
Gleb Wataghin. Desse tempo são seus primeiros trabalhos
publicados pela
Academia Brasileira de Ciências. Em 1945 participou de concurso
para a cadeira
de Mecânica Racional da Escola Politécnica com uma tese
sobre Teoria das
Percussões. Classificou-se em segundo lugar, um resultado
bastante contestado
na época. A classificação lhe valeu os
títulos de Doutor em Ciências e de Livre
Docente. Dedicou-se intensamente ao ensino tendo sido professor em
diversas
unidades da USP, onde seus cursos de Mecânica Racional,
Mecânica Analítica,
Mecânica Celeste e Física Matemática se
notabilizaram pela perfeição e clareza
de suas exposições. Em 1949 sucedeu Wataghin na chefia do
Departamento de
Física.
Sempre
se interessou pela Astronomia e em 1949,
juntamente com o Prof. Aristóteles Orsini e outros, fundou a
Associação de
Amadores de Astronomia de São Paulo da qual foi por varias vezes
diretor. Foi convidado para escrever o capítulo “A Astronomia no
Brasil”, do livro “As
ciências no Brasil” de Fernando de
Azevedo, publicado em 1955.
Em
1954, membros do Conselho Universitário da USP,
entre eles o Prof. Orsini, então presidente da
Associação de Amadores de
Astronomia de São Paulo e diretor da Faculdade de Odontologia da
USP, discutindo
a melhor solução para a sucessão do Prof. Alypio
Leme de Oliveira na direção do
Observatório de São Paulo (Instituto Astronômico e
Geofísico da USP), chegaram
por consenso ao seu nome. A sugestão foi levada pelo diretor do
Observatório ao
governador do estado, Lucas Nogueira
Garcez, também professor da USP e contemporâneo de
Abrahão quando estudante na
Poli que a acolheu com entusiasmo e tomou para si a missão de
convencê-lo a
aceitar a incumbência, no que foi bem sucedido. Em 1955 o Prof.
Abrahão de
Moraes assumiu a direção do Observatório de
São Paulo.
A
única atividade científica do Observatório era a
coleta sistemática de dados meteorológicos. Além
disso, publicava-se um Anuário
Astronômico e um Boletim Ionosférico, um com as
variações nas posições de estrelas
e planetas ao longo do ano e o outro com as previsões mensais do
estado da
ionosfera e os limites nas frequências que poderiam ser
utilizadas nas radio-comunicações
em diversas rotas. Em ambos os casos eram adaptações de
efemérides e previsões publicadas
nos Estados Unidos e na Europa. O
ambiente deixado pelo diretor anterior não era
bom, e alguns funcionários tudo fizeram para prejudicar as
atividades do
Observatório e contrariar as iniciativas do seu novo diretor.
Entre os
funcionários havia apenas 3 ou 4 com nível superior.
Nenhum era um cientista
ativo. Mas dois deles, emigrados da Europa após o final da
guerra, já tinham
tido alguma experiência científica e várias publicações. Suas atividades nas
duas décadas
anteriores foram prejudicadas pela guerra e suas sequelas. Apesar de
muita
arrogância, jamais chegaram a liderar projetos científicos
à altura dos que
seriam necessários para a modernização do
Observatório.
Uma
feliz circunstância ajudou o Professor Abrahão a
iniciar a transformação do IAG. A ONU declarou 1957 como
Ano Geofísico Internacional, uma iniciativa que congregou os
esforços de 66 países em uma campanha destinada a
proporcionar uma maior e melhor compreensão dos fenômenos
relacionados à Terra, sua estrutura, composição.,
propriedades físicas e processos dinâmicos. Na medida de
suas parcas possibilidades, o IAG foi engajado nessa campanha. A estação
meteorológica foi renovada e uma
colaboração com o Observatório Naval de Washington
foi iniciada com a
instalação na luneta Zeiss, de uma câmara lunar de
Markowitz. As fotografias da
Lua no fundo estrelado eram enviadas para o Observatório Naval
onde depois de
medidas deveriam servir para a determinação de
irregularidades na rotação da
Terra. Apesar do empenho de alguns técnicos do
Observatório, o programa acabou
não dando resultados com a precisão desejada por causa de
dificuldades
relacionadas à forma do disco lunar. Além disso, foram
iniciadas varias colaborações
com a Escola Politécnica. A principal delas foi a
instalação no Observatório,
pelos Professores Luiz de Queiroz Orsini e Antonio Helio Guerra Vieira,
de um
rádio-interferômetro destinado ao estudo da ionosfera
através das alterações
que provocava em ondas de rádio oriundas do centro
galáctico.
Em
1957, imediatamente após o lançamento do primeiro
satélite artificial da Terra (o Sputnik I), suas passagens eram
registradas no
IAG. No ano seguinte, o radio-interferômetro foi usado para o
registro das
passagens pelo meridiano de São Paulo do satélite
Explorer I, de vida mais
longa. Esses registros permitiram observar os efeitos do achatamento da
Terra
na precessão do plano orbital e determinar o seu valor.
REGISTRO
DA PASSAGEM DO SPUTNIK
2 PELO MERIDIANO DE SÃO PAULO. Observação de passagem feita em 4/11/1957, dia seguinte ao do lançamento do satélite, usando o rádio-interferômetro instalado no Observatório de São Paulo (IAG-USP) pelos Profs. Luiz de Queiroz Orsini e Antonio Helio Guerra Vieira, da Escola Politécnica. |
Estimulado
por esses sucessos, Abrahão de Moraes dedicou-se a elaborar uma
teoria do movimento
dos satélites artificiais da Terra. Sua teoria, publicada pela
Academia
Brasileira de Ciências e uma das primeiras publicadas,
contém o cálculo das
principais perturbações orbitais devidas ao achatamento
da Terra. Sua visão matemática
lhe fez de imediato perceber que no caso particular do movimento de um
satélite no plano equatorial da Terra, as equações
são integráveis
rigorosamente se forem usadas funções elípticas. O
artigo inclue a solução
desse problema em termos de funções de Jacobi e de
Weierstrass. Mas essa
história não termina aqui. Nesse artigo também se
mostra que a equação do caso
equatorial é idêntica à que se obtém em
Relatividade Geral para o movimento de
uma partícula em um campo com simetria esférica (ds2
de
Schwarzschild). Desde os trabalhos iniciais da Relatividade Geral, as
soluções
do movimento nesse caso eram obtidas por processos de
aproximações sucessivas.
O artigo de Abrahão foi o primeiro a incluir uma
solução rigorosa para as
equações do movimento resultantes do ds2 de
Schwarzschild. Aliás,
Abrahão em nenhum momento renunciou ao seu passado de
físico. Depois do artigo
sobre satélites artificias voltou a trabalhar com Paulus Aulus
Pompéia em temas
relacionados à análise estatística de
séries de eventos sucessivos, em que
colaboravam desde os tempos de Gleb Wataghin na USP.
Possuia
um conhecimento ímpar das ferramentas matemáticas da
Física e um talento inigualável
para a solução de problemas. Exemplo disso encontra-se em
um artigo de Wilfred
Stevens publicado no Monthly Notices da Royal Statistical Society sobre
séries
de diluições geométricas. Wilfred Stevens, egresso
de Cambridge e que na sua
juventude trabalhou com R.A.Fisher e F.Yates, optou pelo Brasil e aqui
ajudou a
construir o Departamento de Estatística da USP. Copio partes de um parágrafo desse artigo: “Unfortunately the integrals prove to be
intractable. Consider the simplest case … By numerical integration, the
writer
showed the result to be log 2, and an ingenious proof of this result
has been
found by Professor Abrahão de Moraes” (Mon. Not.
A
escolha de Abrahão de Moraes para dirigir o IAG em 1955 foi
fundamental para o
futuro daquela instituição e da Astronomia brasileira.
Feliz foi a
circunstância de que isto tenha ocorrido quase ao mesmo tempo em
que Fernando
de Azevedo o convidou para escrever o capítulo de Astronomia de
seu livro “As Ciências
no Brasil”.
Aquele trabalho lhe deu uma visão abrangente da
Astronomia no Brasil
que, após um início razoável nos tempos do
Império, havia desaparecido – As
últimas pesquisas em astronomia realizadas no Brasil, os
trabalhos teóricos
sobre o movimento dos asteróides e as observações
feitas com a luneta zenital
para a determinação da variação da latitude
do Rio de Janeiro, ambos de Lélio
Gama, datavam da década de 1930. O contraste com o progresso que
se verificava
em outras disciplinas científicas era gritante. Nas
conclusões daquele
capítulo, Abrahão escreveu:
“Para
que possa nosso país cooperar eficazmente para o progresso da
astronomia,
mister se faz a ereção de um observatório, ou a
transferência de um dos
existentes para uma região de clima mais propício,
afastada dos grandes centros
urbanos. Torna-se ainda necessário atrair para nosso meio alguns
astrônomos de
grande capacidade e enviar aos grandes estabelecimentos europeus e
americanos,
nossos jovens que se interessem pelos estudos astronômicos.
Procedimento
semelhante, empregado em outros domínios científicos,
conduziu já a resultados
altamente compensadores.” |
Certamente, neste final, Abrahão de Moraes tinha em mente o que havia sido feito em diversos departamentos da USP, inclusive no departamento de Física. Por essa razão, uma de suas prioridades foi dar apoio e orientação inicial a jovens estudantes, os mesmos que anos mais tarde constituiriam os primeiros grupos de pesquisa em Astronomia Dinâmica, Astrometria e Astrofísica de nosso país. Esses grupos, depois da transformação do IAG em unidade de ensino, formaram o Departamento de Astronomia do IAG. Outra prioridade que elegeu foi a bibliotea do IAG, na qual investiu tudo o que pode. Atualizou todas as principais coleções de periódicos e as completou adquirindo de livreiros internacionais especializados os volumes que faltavam para completá-las, manteve um programa contínuo de aquisição de livros novos e adquiriu um grande número de obras clássicas. Essa biblioteca foi fundamental para a transformação posterior do IAG em uma importante instituição de pesquisa. Ao mesmo tempo, com a direta participação de Jean Delhaye, diretor do Observatório de Besançon e mais tarde diretor do Observatório de Paris, elaborou um plano destinado a dotar a nova geração com instrumentos para o trabalho astronômico. O observatório astrométrico do IAG, em Valinhos (que hoje se chama Observatório Abrahão de Moraes), equipado inicialmente com um astrolábio e um círculo meridiano, foi inaugurado em 1972. Em 1964, com o auxílio de uma comissão de astrônomos franceses liderada por Jean Rösch, iniciou os trabalhos visando a instalação de um observatório astrofísico para uso dos cientistas brasileiros. O Dr. Luiz Muniz Barreto, então diretor do Observatório Nacional, que foi o seu braço direito nessa tarefa e que coordenou os trabalhos iniciais de escolha de sítio, assumiu a liderança do projeto após o prematuro falecimento de Abrahão de Moraes e o levou a termo construindo o que hoje é o Laboratório Nacional de Astrofísica.
Relatos
existentes sobre essa época, e que se
repetem de tempos em tempos em discursos sobre o passado da Astronomia
Brasileira,
dizem que o Professor Abrahão deu prioridade à
Astrometria em detrimento da
Astrofísica. Muito contribuiu para isso a luta de Muniz Barreto
pela
implantação da Astrofísica no Observatório
Nacional, usando como contraponto a
montagem de um observatório astrométrico pelo IAG-USP.
Algumas frases
infelizes, em documentos da época, referem-se a uma
divisão de tarefas entre a
USP e o ON: Astrometria na USP, Astrofísica no ON. Essa
divisão nunca existiu.
Circunstâncias como o recebimento por empréstimo de
vários equipamentos
astrométricos, a montagem de uma infra-estrutura de apoio
às suas atividades, e
o decisivo apoio do Observatório de Paris na
organização de prolongadas visitas
de seus técnicos ao Brasil para prover o efetivo funcionamento
de alguns
equipamentos, de fato facilitaram o início da Astrometria na
USP. Mas sem que
isso significasse uma opção exclusiva. O Professaor
Abrahão jamais abdicaria do
desenvolvimento na USP da Astronomia como um todo. Como fato concreto
mencione-se o convite a Carlos Varsavsky, jovem professor da
Universidade de
Buenos Aires e ex-aluno de Martin Schwarzschild, para dar um curso de
Estrutura
Interna e Evolução Estelar, na USP,o que efetivou-se em 1961, e
posteriormente (1963) o convite a Jean Delhaye para ministrar no IAG um
curso sobre Astronomia Estelar. Em seguida,
entre os primeiros
estudantes a serem encaminhados por iniciativa do Professor
Abrahão para
doutoramento na França, vários tinham como
motivação o futuro desenvolvimento
da Astrofísica na USP. Uma vez mais, se os dois primeiros
não se dedicaram à Astrofísica,
as razões foram circunstanciais.
Não
existe cientista sem obsessão e o Professor Abrahão
não fugia à regra. As
condições de pesquisa no Brasil eram difíceis.
Pessoas como ele, que nos dias
de hoje se notabilizam na Universidade como pesquisadores, naquele
tempo se
erigiam em grandes professores. E isso é o que ele era. Um
professor primoroso,
que sabia dar uma aula, que sabia transmitir as coisas mais
difíceis, mercê,
evidentemente, do domínio que tinha do cálculo, da
facilidade com que
imediatamente se assenhorava das passagens mais difíceis de
qualquer
demonstração. Eu me lembro particularmente de quando ele
nos dava o curso de
Mecânica Celeste, um curso para graduados no Departamento de
Física, que hoje
se chamaria de pós-graduação mas que, naquele
tempo, se chamava de
especialização. Ele preparava uma aula, em cima do livro
do Tisserand, em duas
horas. Pegava o livro, se fechava em um aposento qualquer da Faculdade
de
Filosofia, na Rua Maria Antonia, e duas ou três horas depois
estava pronto para
dar sua aula, e dava uma aula magistral. E preparar a aula significava
escrevê-la, não era simplesmente preparar-se para uma
representação. Os
cadernos onde ele preparava seus cursos, eram famosos!
Da
sua luta incansável resultou a transformação do IAG em unidade de
ensino e pesquisa da USP. Mas não teve ele o prazer de estar vivo nesse
momento e assistir ao final feliz da sua luta. Ao contrário, em vida
conviveu com tenaz oposição da parte dos responsáveis pela Universidade
à criação da nova unidade. Mas a comoção provocada por sua morte
prematura levou o Reitor da USP, Professor Miguel Reale, a
comprometer-se com a sua luta, como pleito à sua memória. E com a
decisiva participação do Professor Waldyr Muniz Oliva, isso finalmente
ocorreu.
Entre
1959 e 1967, Abrahão de Moraes representou o Brasil no
comitê técnico da Comissão
do Espaço Cósmico da ONU. Em 1967 foi aprovado para a
cátedra de Cálculo
Diferencial e Integral da Escola Politécnica da USP,
transferida, após a
reforma universitária de 1969, para o Instituto de
Matemática e Estatística. De 1965
a 1970, presidiu o Grupo de Organização da
Comissão Nacional de Atividades
Espaciais (hoje INPE) em São José dos Campos, SP.
Faleceu em
São Paulo em 11 de Dezembro de 1970.
Em vida
recebeu diversas homenagens por sua incansável
atuação pelo
desenvolvimento da Astronomia e das Ciências Espaciais no Brasil:
as “Palmes
Académiques” da França, o diploma da National
Science Foundation dos Estados Unidos
e a Ordem do Mérito Aeronáutico do Brasil. Foi
membro titular da Academia Brasileira de
Ciências. Sua
memória foi homenageada
pela comunidade astronômica internacional que deu o seu nome a
uma cratera de
impacto na Lua: A cratera De Moraes, [Latitude 49.5° N, Longitude
143.2° E]
com 53 km de diâmetro.
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Publicações
Principais
A. de Moraes, “A Astronomia no Brasil”. In “As Ciências no Brasil”, F.Azevedo, org. Ed. Melhoramentos, São Paulo, 1955, Cap. II, pp. 84-161 (reimpresso IAG-USP, 1984). A. de Moraes, “Effects of the Earth’s oblateness on the Orbit of an Artificial Satellite”. Anais da Academia Brasileira de Ciências 30, 465-510 (1958) A. de Moraes e P. A. Pompéia, “Time Distribution Analysis related to Statistical Physics”, Anais da Academia Brasileira de Ciências 33, 13-23 (1961). |
Eu
o conheci ao fazer o vestibular para o curso de
Fisica, e o tive como professor de Mecânica Racional no ano
seguinte, em 1956.
Suas aulas eram perfeitas, de longe as melhores de todo o curso que
fiz, e sua
pessoa era de muito fácil acesso. Era um professor com quem
todos os alunos,
imediatamente, estabeleciam um relacionamento de grande amizade,
até mesmo de
uma certa intimidade. Os alunos dos anos finais do curso o tratavam por
um
apelido carinhoso. Ele era o Pai Abrahão. Apelido correto para
quem tinha realmente
um comportamento com uma forte componente paternal. No intervalo das
aulas,
pausa para um café, sempre um grupo se formava ao redor dele no
bar da esquina
das ruas Maria Antonia e Dr. Vila Nova. Foi assim que um dia vimos na
capa do seu
caderno de anotações um carimbo redondo onde estava
escrito “Observatório de
São Paulo”. Para nós foi esse o momento em que soubemos
que São Paulo tinha um Observatório
Astronômico e que seu diretor era ninguem menos do que o nosso
professor de
Mecânica. O assunto do momento era a oposição
periélica de Marte, prevista para
Setembro de 1956, e um grupo de alunos, estagiários de
iniciação científica do
laboratório do Professor Oscar Sala, o acelerador Van de Graaff,
discutia a
possibilidade de construir um telescópio para poder observar
Marte na sua
máxima aproximação. Esse assunto dominou muitas
vezes a conversa da hora do
cafezinho. Essas conversas levaram a que, na metade do ano, ocorrendo a
vacância
de um cargo de técnico no Observatório, ele me convidasse
a ocupá-lo. O que, de
fato, aconteceu. Quando eu cheguei ao Observatório, ele
preocupou-se muito em impedir que eu me
misturasse ao
resto do pessoal, que ele sabia altamente viciado pelas regras da
“repartição
pública”. Então, eu não tive uma sala de trabalho.
Eu era talvez o único
funcionário do IAG que não tinha nem sala nem mesa. A
minha sala de trabalho e
a minha mesa de trabalho eram a sala e a mesa de trabalho do Professor
Abrahão.
Era uma mesa larga, eu sentava num canto. ele sentava no outro, cada um
fazendo
o seu trabalho. Algo que durou, dessa maneira, um tempo bastante longo.
Mas,
como seria de se esperar, à medida que os seus afazeres e
responsabilidade íam
aumentando, não era possível, na mesa do Diretor, a
presença de uma outra pessoa.
Eu acabei, um pouco a seu contragosto, encontrando uma mesa para
trabalhar em outra sala. No fim daquele inverno, grupos se reuniam, em serões de observação na luneta Zeiss do Observatório, observando Marte... E nos anos seguintes, trabalhando no Observatório, pude acompanhar de perto sua decisiva contribuição para transformar a repartição pública em instituto dedicado à ciência e para que fossem criadas as bases para que o IAG se transformasse na instituição que é hoje. (S.F.M.) |